sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Conservadorismo e Liberalismo (2)

Referi aqui a ideia desenvolvida por Hayek no "Constitution of Liberty" acerca do valor não-racionalizável da Liberdade.
A "Constitution of Liberty" é o que mais se assemelha ao que chamaria de manual político pessoal. Recomendo-o vivamente a todos os que, porque concordam ou discordam, queiram conhecer melhor os argumentos liberais. Além de estar belissimamente escrito (leio o sem problemas em inglês), está disponível em Portugal numa edição da Routledge. Comprei-o na FNAC (pelos vistos está indisponível).
Escreve então Hayek no capítulo 4 (Freedom, Reason and Tradition):
While the rationalist tradition assumes that man was originally endowed with both the intellectual and the moral attributes that enabled him to fashion civilization deliberately, the evolutionists made it clear that civilization was the accumulated hard-earned result of trial and error; that it was the sum of experience, in part handed from generation to generation as explicit knowledge, but to a larger extent embodied in tools and institutions which had proved themselves superior - institutions whose significance we might discover by analysis but which will also serve men's ends without men's understanding of them.
(Sub-capítulo 4)
Ou seja, Hayek considera, muito bem, a meu ver, que a experiência resultante de séculos e séculos de vida em sociedade produziu uma série de instituições que não eram antecipáveis a priori, nem, muitas vezes, compreensíveis a posteriori.
Mais abaixo:
The antirationalist tradition is here closer to the Christian tradition of the fallibility and sinfulness of man, while the perfectionism of the rationalist is in irreconcilable conflict with it.
Há aqui uma questão, não nego, que é da quais as tradições/instituições boas, quais as más, e como saber quais as que são benéficas, logo a manter, quais as prejudiciais, logo a eliminar. (Igonoremos aqui o facto de nem todas as tradições/instituições terem só efeitos positivos, nem só negativos, nem os mesmo efeitos sob todos os indivíduos). Ora o que Hayek afirma é que numa sociedade livre isso não tem que preocupar o colectivo, apenas o indivíduo que escolhe para si como decide viver.
It may well be that a nation may destroy itself by following the teaching of what it regards as its best men, perhaps saintly figures unquestionably guided by the most unselfish ideals. There would be little danger of this in a society whose members were still free to choose their way of practical life, because in such a society such tendencies would be self-corrective: only the groups guided by "impractical" ideals would decline, and others, less moral by current standards, would take their place. But this will happen only in a free society in which such ideals are not enforced on all. Where all are made to serve the same ideals and where dissenters are not allowed to follow different ones, the rules can be proved inexpedient only by the decline of the whole nation guided by them.
Sub-capítulo 9
Importa repetir o argumento: nenhuma nação está livre de se auto-destruir por seguir políticas erradas, ainda que bem intencionadas, que imponham um modo de vida a todos os seus cidadãos. Claro que para quem acredita que o ser humano é um ser capaz de racionalizar as instituições que melhor servem a sociedade isso pouco importa porque não iria acontecer com as instituições que idealizaram. Mas convinha lembrar que as nossas instituições não foram racionalizadas, e que foi exactamente isso que tentaram fazer Marx e Engels.

Aquilo que divide Conservadores entre Conservadores-Liberais e Conservadores-Socialistas é justamente a atitude perante a evidência, evidência que o Liberalismo reconhece e prossegue, de que o experimentado é melhor face ao desconhecido. É que Hayek também afirma:

There is an advantage in obedience to such rules not being coerced, not only because coercion as such is bad, but because it is, in fact, often desirable that rules should be observed only in most instances and that the individual should be able to transgress them when it seems to him worthwhile to incur the odiumwhich this will cause. (...) It is this flexibility of voluntary rules which in the field of morals makes gradual evolution and spontaneous growth possible, which allows further experience to lead to modifications and improvements. Such an evolution is only possible with rules which are neither coercive or deliberately imposed—(…)Unlike any deliberately imposed coercive rules, which can be changed only discontinuously and for all at the same time, rules of this kind allow for gradual and experimental change. The existence of individuals and groups simultaneously observing partially different rules provide the opportunity for selection of the more effective ones.
Sub-capítulo 6
E
(...) in such [a free] society, such tendencies would be self-corrective: only the groups guided by "impractical" ideals would decline, and others, less moral by current standards, would take their place.
(...)
The important question that arises here is whether the agreement of a majority on a moral rule is sufficient justification for enforcing it on a dissenting minority
Sub-capítulo 9
É portanto a liberdade de infrigir condutas morais e éticas numa sociedade livre (em que essas condutas são impostas por pressão social e não pelo estado) que faz as sociedades crescer e aperfeiçoar-se e as impede de se destruírem por condutas erróneas impostas.
No início do capítulo 4, Hayek cita Francis Lieber que em 1848 afirmava, acerca do conceito francês de liberdade:
The question whether this interference [by public power in society] be despotism or liberty is decided solely by the fact who interferes, and for the benefit of which class the interference takes place, while according to the Anglican view this interference would always be either absolutism or aristocracy (...)
Ou Socialismo, na minha ideia. Seja no entanto como quiseremos chamar aos que querem usar o poder do estado para impôr modelos de vida e moral aos cidadãos, é inegável que o Liberalismo é na sua raíz uma ideologia inegavelmente Conservadora.

11 comentários:

Mário Amorim Lopes disse...

Uma das maiores incoerências do neoliberalismo é a forma como define liberdade. O que, aparentemente, é uma liberdade e eu direito de escolha, aparece posteriormente camuflado de uma oferta de um grupo restrito de privados à população. O exemplo perfeito deste caso é precisamente o sistema de saúde americano, em que a alternativa a não ter um seguro de saúde é pagar valores exorbitantes por uma operação. Que liberdade é então essa que nos entrega a seguradoras que praticam oligopólios e exercem preços dos mais altos do mundo? Para isso, prefiro o neosocialismo -- chamem o que lhe quiserem -- do sistema de saúde europeu, onde posso optar por ir a um privado mas tenho sempre o público disponível, que também já me foi muito útil. Posta a questão nestes termos, eu diria que o conceito de liberdade permanece por especificar na teoria neoliberal de Hayek.

Já tive oportunidade de ler Constituion of Liberty, da mesma forma que li O Capital. São, de ponto de vista ideológico, diametralmente opostos, mas, na prática, são iguais: utopias.

Interessa mais estudar a antropologia e a história da aplicação das teorias neoliberais em países como Chile, UK, USA, Inglaterra, Singapura, Coreia do Sul, Argentina. E, interessa ainda mais, perceber as consequências da imposição das teorias neoliberais por parte do IMF/Wall Street/US Tresury nestes países.

Para tal, recomendo a leitura de "The History of Neoliberalism" de David Harvey da Oxford press. Aí, vemos o que são as verdadeiras consequências do neoliberalismo. E, curioso também, perceber porquê que o IMF/WS/US Tresury impunham neoliberalismo aos países que suportavam, enquanto os EUA mantinham politicas manifestamente de índole Keynesiana. Faz o que eu digo, não faças o que eu faço?

Enfim, vejo o neoliberalismo com tanta preocupação como vejo o comunismo. E vejo o neoconservadorismo americano com ainda mais preocupação que vejo o neoliberalismo e o comunismo juntos.

Migas disse...

O exemplo perfeito deste caso é precisamente o sistema de saúde americano, em que a alternativa a não ter um seguro de saúde é pagar valores exorbitantes por uma operação. Que liberdade é então essa que nos entrega a seguradoras que praticam oligopólios e exercem preços dos mais altos do mundo?

Nada perfeito. O custo alto dos cuidados de saúde nos EUA é causado pela intervenção estatal que por um lado obriga as seguradoras a oferecer determinadas coberturas, o que aumenta a procura, e por outro lado, via Medicare e Medicaid, distorce o mercado.

Mário Amorim Lopes disse...

Oh Migas, esse comentário talvez passasse como verdadeiro em circunstâncias comuns. Mas vivi um ano nos EUA e falei com um ex Director da Blue Shield America que me contou o que realmente se passa com as seguradoras.

Não é nada mais do que um oligopólio com centenas de lobbistas a trabalharem diariamente em Washington DC para impedir um sistema nacional de saúde.

Mas pronto, fique lá com a sua retórica neoliberal, se o faz sentir feliz. Mas, entretanto, leia uns livros de história, porque a retórica neoliberal é muito diferente da prática.

Migas disse...

Mas vivi um ano nos EUA e falei com um ex Director da Blue Shield America que me contou o que realmente se passa com as seguradoras.

Uau. Um argumento de autoridade. I'm very impressed.

Não é nada mais do que um oligopólio com centenas de lobbistas a trabalharem diariamente em Washington DC para impedir um sistema nacional de saúde.

Esse é precisamente o ponto. Os "lobbistas" estão lá para obter favores do estado. E este não se faz rogado.

Mas pronto, fique lá com a sua retórica neoliberal, se o faz sentir feliz.

Retórica neoliberal? Você próprio admite a existência de "lobbistas" a influenciar as políticas públicas. Isto são dois lados da mesma moeda. Essa ideia de que quem defende o mercado e critica a intervenção estatal é a favor de lobbies e de as grandes empresas usarem o estado para proveito próprio é que é retórica marxista ou, quanto muito, neo-socialista (que são os tipos de rejeitam Marx sem perceber que continuam a usar os seus argumentos).

Mas, entretanto, leia uns livros de história, porque a retórica neoliberal é muito diferente da prática.

Ah! Sobranceria arrogante. Que excelente maneira de terminar um comentário disparatado.

Mário Amorim Lopes disse...

Oh caro Migas, não se roga por tão pouco. Sai um "Muito Bem" da bancada do CDS.

O facto de 1) ter vivido nos EUA; 2) ter experienciado o sistema de saúde americano; 3) ter falado com alguém do meio; não é um argumento de autoridade. É o que diferencia chutar a teoria deambolatória de Hayeks ou estar no terreno e perceber o efeito.

Quanto aos lobbistas, estão lá pelas próprias empresas, impedindo que o Estado crie um sistema nacional de saúde. Repare, os lobbistas estão a promover o neoliberalismo ao impedir que o Estado entre no mercado com uma alternativa que sirva os cidadãos e não os interesses dos privados.

Reitero o facto de o sistema de saúde nos EUA ser um excelente espelho para as consequências de um capitalismo selvagem e desregulado. Contrariamente à teoria, o mercado livre na saúde não o vai tornar mais barato e competitivo, vai levar a que as seguradoras de saúde arranjem mais formas de contornar a descida dos preços, como é a prática de oligopólio.

Se me recusa os livros de história, veja ao menos o "Sicko" do Michael Moore. É bom falarmos quando conhecemos os dois lados da barricada. Não se prenda.

Migas disse...

É o que diferencia chutar a teoria deambolatória de Hayeks ou estar no terreno e perceber o efeito.

Eu falei em Hayek ou apresentei qualquer teoria, por acaso? Eu apenas apontei que a sua asserção de que o sistema de saúde é um exemplo perfeito de uma "incoerência do neoliberalismo" é falsa, na medida em que o sistema sofre demasiada intervenção governamental. Essa intervenção pode surgir por razões eleitorais, leia-se demagógicas, ou por efeito de grupos de pressão. Isto é um facto que você próprio admite.

Repare, os lobbistas estão a promover o neoliberalismo ao impedir que o Estado entre no mercado com uma alternativa que sirva os cidadãos e não os interesses dos privados.

Não percebo o seu conceito de neoliberalismo. Nunca vi nenhum dos autores que normalmente são rotulados de neoliberais defender que o estado deve defender os interesses de um determinado grupo privado contra os cidadãos em geral.

Reitero o facto de o sistema de saúde nos EUA ser um excelente espelho para as consequências de um capitalismo selvagem e desregulado.

Repetir um erro vezes sem conta não o faz deixar de ser um erro. O sistema de saúde americano não é desregulado. Pelo contrário, deve ser o mais regulado.

Se me recusa os livros de história, veja ao menos o "Sicko" do Michael Moore.

Mmmm. Eis uma fonte altamente imparcial e credível. Não vi, de facto, o filme todo. Só alguns clips na TV e no Youtube. Mas vi os filmes anteriores da peça. Diga-me lá, desta vez ele também entrevista "peritos" que acreditam que GW Bush é um reptiliano (não mencionando esta característica no filme, claro)?

É bom falarmos quando conhecemos os dois lados da barricada. Não se prenda.

Eu conheço. De ginjeira. O Mário é que das duas uma: Ou já debita a cassete com tanta regularidade que já perdeu o sentido crítico daquilo que diz; ou é mesmo daqueles sofistas que dobram os conceitos para fugir a ter de justificar o que dizem. O seu uso de "neoliberalismo" é típico da falácia do espantalho: por definição, é já algo intrinsicamente imoral, selvagem, etc. Assim não há debate possível.

Mário Amorim Lopes disse...

Vamos começar pelo fim Migas.

O seu uso de "neoliberalismo" é típico da falácia do espantalho: por definição, é já algo intrinsicamente imoral, selvagem, etc. Assim não há debate possível.

Pelo contrário. Considero-me centrista. Ora, sendo de centro, não me repugna os ideais que não pertencem ao meu espectro político porque eu cubro todo o espectro político. Defendo alguns ideais mais liberais em determinadas situações (fui totalmente a favor da resregularização do sector das telecomunicações e da privatização da PT) e outros mais Keynesianos noutras. O sistema de saúde é claramente o caso em que sou totalmente contra um mercado desregulado por acreditar que a sua eficiência é meramente teórica. Na prática, o mercado dá a volta às teorias económicas para continuar na sua rampagem interminável para gerar lucro (cash flow na verdade).

Nunca vi nenhum dos autores que normalmente são rotulados de neoliberais defender que o estado deve defender os interesses de um determinado grupo privado contra os cidadãos em geral.

Os autores (Hayek e Friedman) defendem teorias que permitem a grupos de interesse uma grande acumulação de capital com uma grande clivagem para o resto da população. EUA com Reagan, UK com Thatcher ou Chile com Pinochet são poucos dos muitos exemplos onde se verificou uma grande acumulação de capital por parte de uma pequena parte da população e a descida das condições e qualidade de vida da restante população, com um aumento em flecha dos níveis de desemprego.

O sistema de saúde americano não é desregulado. Pelo contrário, deve ser o mais regulado.

Pedia-lhe que tentasse provar essa informação.

Volto a repetir que não existe qualquer intervenção do estado. O Medicare e Medicaid estão apenas disponíveis para pessoas classificadas como "pobres", sendo que os seus seguros de saúde são financiados pelo Estado em vez de serem pagos pelo próprio. De resto, todo o sector de saúde é desregulado, sendo os preços dos medicamentos definidos integralmente pela indústria farmacêutica, o preço dos tratamentos pelos médicos e as apólices de seguros pelas seguradoras.

Convido-o a provar que assim não é.

Mmmm. Eis uma fonte altamente imparcial e credível. Não vi, de facto, o filme todo

Não se prenda com a propaganda destrutiva que alguns elementos do partido republicano conseguiram, com sucesso conclui-se, fazer a Michael Moore.

Aconselho-o mesmo a ver o filme integralmente. E depois verá porquê que alguns americanos casam com canadienses para poderem ter acesso ao sistema de saúde público do Canadá.

Não leve a mal quando uso termos como capitalismo selvagem ou atribuo conotação prejorativa a termos como neoliberalismo. Mas é que eu conheço o filme, e na teoria é bonito. Que nem "A Capital" de Karl Marx. Na prática é que a coisa muda de figura...

Migas disse...

O Medicare e Medicaid estão apenas disponíveis para pessoas classificadas como "pobres", sendo que os seus seguros de saúde são financiados pelo Estado em vez de serem pagos pelo próprio.

O Medicaid é para pobres. Ou na verdade, menos favorecidos, pois cobre mais de 50 milhões de pessoas. O Medicare é para TODOS os cidadãos com mais de 65 anos ou para mais novos que sejam incapacitados. O Medicare é praticamente obrigatório, com cerca de 95% da população elegível a inscrever-se (cerca de 42 milhões de pessoas). Ambos os programas pagam directamente aos fornecedores de serviço. Existe inclusivé uma lista extensa que define as despesas elegíveis e o preço standard pago por elas. Este facto é o principal responsável pelos preços altos nos custos de saúde gerais, na medida em que o estado paga preços mais baixos fazendo os fornecedores cobrar preços mais altos a quem não é coberto pelo estado.

De resto, todo o sector de saúde é desregulado, sendo os preços dos medicamentos definidos integralmente pela indústria farmacêutica, o preço dos tratamentos pelos médicos e as apólices de seguros pelas seguradoras.

Os preços não são "definidos" pelo ofertante. São definidos pelo encontro entre oferta e procura. Na verdade, a procura tem mais poder negocial por ser concentrada (Estado, HMOs, seguradoras). Todos os preços pagos pelo estado são definido pelo estado.

Além disso, o enquadramento fiscal e legal faz com que todas as empresas comparticipem seguros de saúde para os seus trabalhadores. Com regras definidas pelo estado. Cerca de 80% das empresas comparticipam esses seguros em 75% ou mais. 18% comparticipam entre 50% e 75%. 50% das empresas comparticipa seguros para toda a família do empregado em 75% ou mais. 37% comparticipa entre 50% e 75%. A influência das políticas governamentais no campo da saúde é de tal ordem, que influencia toda a população. Pior, dado o peso da procura total, afecta mesmo outros países. Isto está muito longe de ser um sistema puramente privado ou desregulado.

E depois verá porquê que alguns americanos casam com canadienses para poderem ter acesso ao sistema de saúde público do Canadá.

Também há "alguns" americanos que se encontram regularmente com folhas de alumínio na cabeça para os seus cérebros não serem manipulados pelos alienígenas que controlam as mentes dos humanos e na verdade mandam no mundo (a começar pelo GW Bush).

Os autores (Hayek e Friedman) defendem teorias que permitem a grupos de interesse uma grande acumulação de capital com uma grande clivagem para o resto da população. EUA com Reagan, UK com Thatcher ou Chile com Pinochet são poucos dos muitos exemplos onde se verificou uma grande acumulação de capital por parte de uma pequena parte da população e a descida das condições e qualidade de vida da restante população, com um aumento em flecha dos níveis de desemprego.

Quanto à teoria, não tenho agora tempo para explicar. Mas por acaso estou a escrever algo para O Insurgente que em breve postarei. A discussão pode ficar para então.

Quanto aos exemplos que dá: as liberalizações que ocorreram tanto nos EUA no tempo de Reagan como na GB de Thatcher como no Chile de Pinochet foram isso mesmo, liberalizações. O peso estatal não desapareceu, apenas diminuiu em algumas áreas (tendo aumentado noutras). A concentração de riqueza aumentou, de facto, mas é falso dizer que os outros ficaram pior. As estatísticas dizem justamente o contrário.

Mário Amorim Lopes disse...

Este facto é o principal responsável pelos preços altos nos custos de saúde gerais, na medida em que o estado paga preços mais baixos fazendo os fornecedores cobrar preços mais altos a quem não é coberto pelo estado.

Isso não é verdade. Os preços tabelados são definidos por um consórcio de seguradoras que apoiará o Medicare/Medicaid. O Governo federal americano não impõe qualquer preço. Como tal, não é verdade que os restantes paguem mais porque as seguradoras são forçadas a cobrar menos pelos seus serviços.

Aliás, um dos maiores criticismos desses programas é precisamente o facto de ser um programa misto, em que o Governo federal está sujeito às condições do privado. É curioso que os EUA, sendo o único país de 1º mundo sem um sistema nacional de saúde, é dos países que mais gasta em saúde (15% do seu PIB). Não será, certamente, porque as seguradoras lhe concedem descontos, mas sim porque esses programas federais foram mais uma forma de engordar um sector já de si privilegiado fruto da desregulação do mercado. O dogma "o objectivo é gerar lucro" não é nem pode ser nunca compatível com "o objectivo é curar uma pessoa, custe o que custar".

Além disso, o enquadramento fiscal e legal faz com que todas as empresas comparticipem seguros de saúde para os seus trabalhadores.

Isso não é verdade e é totalmente falacioso.

A empresa onde trabalhei (SAP) nos EUA não me financiou o meu seguro de saúde. Não fazia parte do contrato de trabalho. E eu trabalhei na Califórnia, onde leis estatais protegem consideravelmente o trabalhador.

Quanto às percentagens, não me parecem relevantes para a discussão. No meu caso foi 0%.

Também há "alguns" americanos que se encontram regularmente com folhas de alumínio na cabeça para os seus cérebros não serem manipulados pelos alienígenas que controlam as mentes dos humanos e na verdade mandam no mundo (a começar pelo GW Bush).

Podemos dispensar a retórica disparatada? Se há coisa que me irrita é ver a quantidade de imbecis (é este mesmo o termo) que no parlamento perdem tempo com ofensas e disparates.

Há efectivamente muita gente que casa com cidadãos canadianos para terem acesso a cuidados de saúde no Canadá. O motivo é que não são suficientemente pobres para serem cobertos pelo Medicaid mas não têm dinheiro suficiente para adquirir uma apólice (que, aliás, são muito caras, pelo menos comparativamente com os países que têm sistema nacional de saúde).

Quanto aos exemplos que dá: as liberalizações que ocorreram tanto nos EUA no tempo de Reagan como na GB de Thatcher como no Chile de Pinochet foram isso mesmo, liberalizações. O peso estatal não desapareceu, apenas diminuiu em algumas áreas (tendo aumentado noutras). A concentração de riqueza aumentou, de facto, mas é falso dizer que os outros ficaram pior. As estatísticas dizem justamente o contrário.

Há estatísticas para tudo, mas eu lhe garanto que em matéria de desemprego, desiguldade social e qualidade de vida, as reformas foram para pior para a maioria da população.

Eu escrevi um artigo em resposta a uma essay de propaganda neoliberal vinda directamente de Washington DC. Aí também explico e dou referências à criação dessas mesmas desigualdades. Convido-o a ler.

http://mywheel.net/essays/politics/europe.html

Mas se estiver com muita pressa, estatísticas do efeito Dama de Ferro em UK: http://www.parliament.uk/commons/lib/research/rp99/rp99-111.pdf

Termino, referindo que a única coisa que aconteceu nesses regimes neoliberais foi a diminuição da despesa e o controlo do déficit e um crescimento da economia, constatações sofistas pelo facto de não reflectirem a população. Veja-se Portugal: déficit a diminuir, crescimento económico a aumentar, mas a população a perder poder de compra e a viver pior. Como é isso? Graças aos lucros incríveis da banca e dos sectores finançeiros. São representativos da população? Nem de perto.

Migas disse...

A sua atitude neste debate é perfeitamente risível Mário. Eu apresento números e você diz que eles não são verdade sem justificar ou apresentando outros. O seu caso não é propriamente significativo estatisticamente. Além que provavelmente a história que contou está mal contada. A regra em empresas grandes é não só pagarem o seguro de sáude como diversas outras coberturas. O que é que fazia para a SAP? Trabalhava como contractor, free-lance, estagiário?

Podemos dispensar a retórica disparatada? Se há coisa que me irrita é ver a quantidade de imbecis (é este mesmo o termo) que no parlamento perdem tempo com ofensas e disparates.

Isto é uma forma subtil de tentar me chamar imbecil? Imbecilidade é a propaganda desonesta de Michael Moore você usa para argumentar.

Veja-se Portugal: déficit a diminuir, crescimento económico a aumentar, mas a população a perder poder de compra e a viver pior. Como é isso? Graças aos lucros incríveis da banca e dos sectores finançeiros. São representativos da população? Nem de perto.

Deixe-me ver se entendo. Você está a comparar as políticas de Reagan e Thatcher ao governo de José Sócrates? LOL. Boa piada. Como explica que uns baixaram os impostos enquanto o outro os subiu?

Bom. Parece-me claro que isto não vai a lado nenhum porque a sua posição é à partida um juízo moral desligado de factos ou da realidade. Esta continuará a ser o que é independentemente dos seus preconceitos. Por mim fico por aqui, além que vou de férias uns dias e não poderei responder.

Mário Amorim Lopes disse...

O que é que fazia para a SAP? Trabalhava como contractor, free-lance, estagiário?

Software Engineer/Researcher.

Isto é uma forma subtil de tentar me chamar imbecil? Imbecilidade é a propaganda desonesta de Michael Moore você usa para argumentar.

Não lhe chamo imbecil porque não o conheço para saber se é um imbecil ou uma pessoa exemplar. Peço-lhe é que não seja imbecil ao incorrer em argumentos bacôcos como a do alumínio na cabeça.

O Michael Moore não é um argumento, é o meu conselho para que se possa informar melhor sobre o sistema de saúde americano de forma fácil, rápida e barata. Claro que pode ler também os relatórios da World Health Organization, mas isso dá claramente mais trabalho (os EUA aparecem em 47º lugar na categoria overall, já agora).

E sinceramente não sei porque descridibiliza tanto o Michael Moore. Por ele ser um activista político que não se vende ao nacionalismo estéril dos republicanos?

Deixe-me ver se entendo. Você está a comparar as políticas de Reagan e Thatcher ao governo de José Sócrates? LOL. Boa piada. Como explica que uns baixaram os impostos enquanto o outro os subiu?

Não comparei e nem sei onde foi buscar essa ideia.

Dei foi um exemplo prático de como se consegue uma economia mais forte (como Thatcher conseguiu) sem que isso signifique efectivamente melhorias para a qualidade de vida da população em geral.

O link que lhe apresentei mostra um estudo muito interessante sobre a evolução de UK desde 1950 até à data. Vá ver os valores do período Thatcher, principalmente o desemprego, que duplicou.

E, já agora, recomendo-lhe também "The history of neoliberalism" de David Harvey. Foi um livro que me abriu os olhos, principalmente depois de ter lido Atlas Shrugged de Ayn Rand.