No início era a Ala. E o problema era existir essa Ala que colocava em perigo os princípios de um partido. Como se essa Ala, que agora tinha nome, nunca tivesse existido. Como se as pessoas que a compunham nunca tivessem participado.
Mas com a constituição dessa Ala surgia, dizia-se, uma agenda escondida, umas ideias liberais a tocar o libertário, a defesa de bandeiras que ultrapassavam a esquerda pela direita e mais uns tantos mitos e fantasmas à solta.
Quando no fim a Ala apenas pretendia dar a sua perspectiva ao partido. Uma perspectiva liberal, não-socialista, não-estatizante, assente no reconhecimento e valorização do indivíduo e da sua liberdade. Uma perspectiva que não se propunha a ser o partido, nem dele ver excluído fosse o que fosse, mas sim, uma visão, entre tantas outras, da sociedade no partido.
Claro que poderia gerar confusão e discussão. Sobretudo num partido que, graças à liberdade que se pode respirar, já alberga, ao contrário do que muitos dizem, tanta diversidade.
Desde os que nele se encontram por não poderem votar mais à direita, aos que com ele misturam Estado-Igreja-Partidos, aos outros, que acreditam no suporte fundamental do Estado-providência, passando pelos saudosistas monárquicos e pelos liberais da Economia e conservadores nos costumes, até aos yuppies do consumo imediato, todos acabam por partilhar um máximo divisor comum de valores e ideias. Todos compõem um partido com possibilidades de crescer.
Mas se no início era a Ala, depois foi a própria constituição das correntes, sendo a dimensão do partido, a principal razão de crítica.
Ora a explicação reside aí mesmo: através das alas pretende-se abrir mais o partido à sociedade civil, encontrar novas caras, novas experiências, pretende-se crescer! Será errado e ilegítimo? Pretende-se quebrar com rótulos e com assombrações que vêm desde o seu nascimento e que nunca tiveram razão de ser, muito embora, nalgumas situações, se tenham agravado.
Além de que, com tanta diversidade já falada, talvez seja mais fácil trabalhar assim do que numa casa de italianos, não vos parece?
E no fim, não é natural, não é saudável existir a Ala Liberal?
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